UPF: o papel da ciência e da extensão no protagonismo acadêmico


“Uma semana que pensamos com muito carinho para intensificar tudo que acontece dentro da Universidade”. Assim, foi definida pela reitora professora Dra. Bernadete Maria Dalmolin a IX Semana do Conhecimento da Universidade de Passo Fundo (UPF), evento que visa aproximar as práticas de ensino, pesquisa, pós-graduação e extensão desenvolvidos na UPF e por outras instituições de ensino superior. A abertura oficial do evento foi realizada na noite dessa segunda-feira, 26 de setembro, de forma on-line, com uma mesa redonda sobre o tema Educação Científica e o protagonismo acadêmico no ensino superior. 

Em sua fala, a reitora destacou a Semana do Conhecimento como um momento muito rico na vida da Universidade e que promove uma série de encontros e possibilidades para que todos tenham a oportunidade de conhecer melhor a riqueza que existe nas diferentes áreas do conhecimento. “Que vocês possam trocar com muitos outros colegas, ver, ouvir e debater sobre estudos diferentes, tentar buscar e fazer conexões com diferentes áreas, refletindo os grandes dilemas que compõem hoje a nossa sociedade”, pontuou. 

A pesquisa científica na construção de um mundo melhor

A ciência e a extensão foram os temas centrais da mesa redonda. Mediado pelo pró-reitor acadêmico, professor Dr. Edison Alencar Casagranda, o encontro partiu da questão de como a educação científica - que passa pela pesquisa, pela extensão - pode contribuir para que se exerça o protagonismo no ensino superior. “Não há uma educação dialógica sem essa fusão de olhares, sem uma fusão de horizontes e aqui está a ideia do protagonismo. O protagonismo supõe a identidade como um espaço universitário. Ser sujeito sem essa identidade é um desafio. Oportunizar, no sentido de que possa de fato proporcionar essa identidade como espaço universitário”, iniciou o pró-reitor. 

Doutor em Ensino de Física e docente do Instituto de Física e do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Física da UFRGS, Nathan Willig Lima destacou a pesquisa científica como caminho de transformação. De acordo com o pesquisador, o protagonismo acadêmico pode ser pensado tanto numa esfera individual quanto coletiva. “Numa esfera individual, ou seja, como a pesquisa pode me qualificar enquanto profissional, seja qual for a área do conhecimento que eu deseje seguir, ou também como isso pode potencializar o meu impacto no mundo, de forma coletiva”, completou. 

Ainda segundo o pesquisador, a ciência é uma prática que se baseia na empiria, que se baseia na liberdade intelectual, no ceticismo, na confiança e em práticas institucionalizadas. “Com isso, se eu quero e me preocupo em ser um sujeito que age no mundo de forma ética e que tenta construir um coletivo, democrático e que dialogue e resolva desafios, a prática científica é fundamental”, pontuou Willig. “Qual a chance de resolver problemas complexos se não for por quem adota esses caminhos em suas práticas. Se a gente quer contribuir para a construção de um mundo melhor, a pesquisa científica tem um potencial gigantesco de nos ajudar a encontrar soluções”, acrescentou. 

“A essência da extensão é o estudante”

A Me. Letícia Ribas D. Bohn, coordenadora da Câmara Sul de Extensão e docente da Univille também foi uma das convidadas da noite. Letícia compartilhou sua experiência com extensão e falou sobre a importância dela para uma educação transformadora. Para isso, a pesquisadora contextualizou os três marcos da extensão universitária e falou sobre o conceito. Na opinião de Letícia, até têm pessoas que não se sentem parte da universidade, porque não criaram identidades com esse espaço. Mas a extensão vem, nessa perspectiva, tentar fazer essa aproximação por meio de uma educação dialógica. “Ela faz isso considerando a produção do conhecimento que é da nossa sociedade, que é produzida no seio da nossa sociedade, fazendo esse estreitamento de laços com a educação dialógica e o protagonismo estudantil”, frisou. 

A professora acredita que essa conscientização não se dá através da solução e da resolução de problemas. A extensão não pode ser caracterizada por ir à comunidade e resolver um problema, é muito mais do que isso. “A extensão deve, como muito bem disse Paulo Freire, problematizar e não atender comunidades como mera prestadora de serviços. O extensionista tem papel fundamental como agente de mudanças, ele precisa recusar a ação de domesticar o homem, pois seu papel principal é o de mediador da comunicação”, disse. 

Dessa forma, enquanto o professor atua como mediador, o estudante é, acima de tudo, o protagonista. “A prática da extensão não tem como ser desenvolvida sem três atores principais: a comunidade, o professor e o estudante. Essa é a premissa da relação de simbiose entre a extensão e o seu território e a essência da extensão é o estudante”, conclui. 

E por ser o estudante o principal agente dessa atuação, a terceira convidada da mesa redonda foi a acadêmica do curso de Jornalismo Andressa Santos Wentz. Extensionista desde 2018, a estudante ingressou ainda no início da graduação sua trajetória na extensão por entender que precisava aproveitar todos os espaços dentro da universidade. “Penso que espaços como a extensão contribuem muito para a nossa formação e eu sei que a minha formação foi diferente por causa disso, justamente por estar no território desde o início e ter contato com as pessoas”, lembrou.

Como futura jornalista, Andressa acredita que estar dentro da comunidade a fez pensar na profissional que quer ser e nas diferentes maneiras de enxergar o mundo. “Quando se está na comunicação, que é um espaço de poder e que fala o mundo, acabamos por reproduzir padrões que são já socialmente estabelecidos, que falam da elite, e não é isso que eu quero, não é dessa maneira que eu enxergo o mundo”, ressaltou.

Andressa lembrou ainda a importância de se desvincular da ideia de que a ciência só pode ser produzida dentro da universidade. “A produção do conhecimento também está dentro da comunidade e quando você chega lá no território e conhece as pessoas, você enxerga isso, é uma relação que é diferente, você conhece outras realidades e tem outra experiência. E se você puder estar dentro desses espaços, você se constrói como profissional, como pessoa”, finalizou.