Mortes por câncer de mama cresceram quase 30% no norte gaúcho na última década


Campanha Outubro Rosa reforça a importância da conscientização e prevenção deste câncer

As mortes por câncer de mama crescem a cada ano. Dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde apontam um cenário preocupante frente ao câncer que mais mata mulheres no Brasil e no mundo. No Rio Grande do Sul, o aumento no número de mortes por câncer de mama foi 24.7% na última década, passando de 1.145 em 2010 para 1.428 em 2019. Na macrorregião de saúde Norte do Estado, que inclui mais de 50 cidades, entre elas Carazinho, Erechim, Frederico Westphalen, Marau e Passo Fundo, o aumento foi de 28.5%, subindo de 112 mortes em 2010 para 144 em 2019. A pandemia de Coronavírus também deverá impactar no diagnóstico e tratamento do câncer de mama. Nesse sentido, a campanha Outubro Rosa tem uma importância significativa para a conscientização e prevenção deste câncer.

O oncologista do Centro de Tratamento do Câncer (CTCAN), Dr. Alvaro Machado, membro do Conselho Consultivo da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), aponta alguns fatores para este cenário envolvendo hábitos de vida saudável, fatores genéticos e, especialmente, a falta de acesso aos tratamentos adequados. “Os tratamentos mais modernos, eficazes e, por isso, de alto custo, estão longe de serem acessíveis à grande maioria da população. São inúmeras barreiras para acesso às terapias inovadoras no SUS, mas também na rede privada. A consequência é esta, maior mortalidade por um câncer potencialmente curável”, observa Machado, ressaltando que o teto de gastos do governo federal, aprovado em 2016, congelando o orçamento para os próximos 20 anos, em várias áreas, entre elas a saúde, agrava ainda mais este cenário.

O diagnóstico precoce por mamografia ainda é uma das principais formas de luta contra esse câncer. Segundo o oncologista, o número de mamografias realizadas no RS saltou de 160 mil mamografias em 2016 para 210 mil em 2019 (Siscan). No entanto, já em 2020 houve uma queda de 30%, que deve se repetir neste ano. Nesse sentido, o oncologista enfatiza que o acesso à mamografia também deve ser levado em consideração neste cenário de aumento da mortalidade. “Existe dificuldade de acesso ao exame e de informação à população menos favorecida sobre a importância do exame”, comenta o oncologista.

A pandemia e seus impactos

A pandemia de Coronavírus, declarada em março de 2020 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), impacta no diagnóstico e tratamento oncológico em geral. Com o câncer de mama não é diferente. “Ainda não temos dados oficiais de diagnósticos e mortalidade no período da pandemia (2020-2021), mas pela redução importantíssima no número de mamografias, que já era insuficiente, podemos esperar um agravamento do quadro atual”, enfatiza Machado.

O sistema de saúde poderá ficar sobrecarregado em função da demanda reprimida pela pandemia. “Infelizmente, haverá nova sobrecarga do SUS e do sistema privado, com o represamento dos atendimentos ocorridos nos últimos anos, podendo impactar na qualidade dos serviços prestados”, salienta o oncologista.

“Temos muito a recuperar”

 O oncologista ressalta que o câncer não é uma doença que pode esperar a pandemia passar. “É uma urgência e dever reverter este quadro. A SBOC (Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica) junto com outras sociedades médicas e entidades de defesa de pacientes têm feito campanhas de conscientização para a população manter consultas, exames rotineiros, vacinação e tratamentos oncológicos neste período de pandemia. Temos muito a recuperar”, alerta Machado.

Para Machado, medidas urgentes devem ser tomadas. “Deve haver busca ativa da população alvo para exames preventivos e de diagnóstico precoce. Campanhas de educação, melhorar o acesso e eficácia do atendimento primário, e ampliar o atendimento especializado, além de oferecer o que há de melhor. Não é admissível termos medicamentos e tecnologias aprovadas e disponíveis no Brasil, mas inacessíveis aos que necessitam”, ressalta o oncologista.

Prevenção
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima mais de 66 mil casos e mais de 18 mil mortes por câncer de mama por ano no Brasil. O também oncologista do CTCAN, Dr. Alex Seidel, enfatiza que entre os fatores de risco estão os hereditários e os associados ao ciclo reprodutivo da mulher. Além disso, a falta de hábitos saudáveis também está na lista. Cerca de 30% dos casos de câncer de mama podem ser evitados com a adoção de hábitos saudáveis. “Excesso de peso corporal, inatividade física, consumo de álcool, tabagismo são fatores de risco importantes e podem ser modificados com a inclusão de hábitos saudáveis na rotina”, destaca Seidel. 

Entre os sintomas de câncer de mama estão nódulos no seio, no pescoço e axilas, saída de líquido anormal pelo mamilo e qualquer outra alteração atípica no seio ou mamilo. “A mamografia é o principal meio de diagnóstico precoce, o que aumenta as chances de cura da doença. Ela deve ser feita anualmente pelas mulheres a partir dos 40 anos de idade. Mulheres com alto risco de câncer de mama devem conversar com seu médico para a conduta mais adequada”, salienta o oncologista.

Importância da campanha Outubro Rosa

Outubro é mês de conscientização para o câncer de mama. É um movimento internacional de conscientização para o controle do câncer de mama, criado no início da década de 1990 pela Fundação Susan G. Komen for the Cure. “O Outubro Rosa desenvolve importantes ações para a conscientização da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama, que é o mais incidente e a primeira causa de morte por câncer entre as mulheres no Brasil”, afirma Seidel.