Trabalhar com paixão dá trabalho
O esporte é estritamente passional: te leva aos céus e, segundos depois, ao inferno. Tem o poder de deixar as mãos tremulas, acelerar o coração e pensar palavras que, talvez, em sã consciência você nem saberia que existe.
O esporte é assim. Mas apenas para o torcedor. Essa visão romântica é uma vista apenas das arquibancadas. Dentro dos clubes e na vida dos atletas, independente da modalidade, vender uma paixão arrebatadora precisa de trabalho sério. Gestão é o ingrediente secreto que diferencia os bons dos maus exemplos.
Nem só de superação e positividade vive Cristiano Ronaldo. Um atleta, para viver do seu rendimento, precisa de uma vida regada, uma conduta condizente com o que ele representa e uma visão de que todo bom salário um dia acaba. Ao contrário disso, a lesão é mais grave, o escândalo vai para a mídia, a aposentadoria é adiantada e, em pouco tempo, o “pé de meia” não existe mais.
Nem só de um bom plantel vive um clube, como o Grêmio, campeão da Copa do Brasil (2016) e da Libertadores (2017) e, quatro anos depois, rebaixado para a Série B. É preciso gestão financeira para garantir uma infraestrutura adequada, gestão de pessoas para entender que, assim como em uma empresa, sem pessoas comprometidas o projeto acaba antes do prazo. E, ter a sã consciência que, se um torcedor entende que precisa e deve vencer todo e qualquer jogo, em um clube você nem sempre consegue vencer – e precisa saber lidar com essa realidade.
Nem só de um patrocinador apaixonado, como é caso da união entre Tramontina e ACBF, se mantém um time. Além disso, uma empresa investe em esporte, principalmente por dois motivos: como marketing, para ter sua marca sendo vista por centenas ou milhares; ou como forma de responsabilidade social, investindo na comunidade onde está. É preciso apresentar resultados.
Enquanto torcedora, foi difícil enxergar tudo que estava por trás. Enquanto gestora, é impossível ver um projeto dar certo a longo prazo sem essa visão profissional e interdisciplinar. É preciso levar a sério a paixão das pessoas pelo esporte e mais a sério ainda quando você sabe que não é só paixão. E isso dá trabalho – um processo que grandes e pequenos clubes, das mais variadas modalidades, ainda estão descobrindo seu potencial. Ganha quem marcar este gol antes.