Terapia para enfrentar a idiotice
A palavra idiota frequentemente é pronunciada no cotidiano. Quando queremos xingar alguém ou depreciar alguma atitude dizemos que fulano é um “verdadeiro idiota” ou de que tal “atitude foi idiota”, ou ainda “agir de tal maneira é idiotice”. Se formos ao dicionário veremos que idiota significa “pouco inteligente, estúpido, ignorante, imbecil”. Na Psiquiatria, o idiota é aquele que sofre de “idiotia”, que é o diagnóstico atribuído ao indivíduo mentalmente deficiente, pois possui um avançado atraso mental devido a lesões cerebrais. Na condição de “estado de idiotia profunda”, o portador dessa patologia tem suas capacidades vitais reduzidas e, portanto, não é capaz de tomar as próprias decisões.
Ninguém gosta ou quer ser chamado de idiota. Pior ainda é ser considerado ou ser tratado como idiota. Ser idiota é ser considerado inferior, tolo, estupido, desprovido de bom senso e de inteligência. A pessoa idiota é desprezada, inferiorizada, excluída. Ter atitude de idiota significa ignorar ou conhecer os fatos, ficar alienado diante dos acontecimentos, não saber o porquê das coisas, fazer julgamentos preconceituosos e “agir de forma cega” diante de certas situações. Nos comportamos como idiotas todas as vezes que somos enganados por quem quer que seja. Mas o pior de tudo é que geralmente os piores idiotas não tem consciência de sua própria condição e acreditam que são inteligentes, espertos, “cidadãos exemplares”; os idiotas são “os outros”.
Se prestarmos atenção com cuidado veremos que a idiotice tomou conta do cotidiano. Em tempos difíceis como os que estamos vivendo, em que a ordem das coisas foi assaltada por uma crise generalizada, a atitude de idiota se faz sentir em todos os lugares. Não é necessário fazer grandes esforços para perceber os idiotas de plantão. As redes sociais, por exemplo, é um dos lugares onde mais se faz sentir a idiotice em ação. Sobre isso tem razão o grande pensador e escritor italiano Umberto Eco quando diz que “as redes sociais dão o direito à palavra a uma legião de imbecis, que antes falavam apenas em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade. Normalmente, eles [os imbecis] eram imediatamente calados, mas agora eles têm o mesmo direito à palavra do que um Prêmio Nobel”. Vejo, com frequência, idiotas postando ou compartilhando nas redes sociais idiotices de todos os tipos e recebendo curtidas imediatas de uma legião de outros idiotas. Atitudes de preconceito, racismo, injúrias, fake News, mentiras e tantas outras formas de manifestações idiotas que nos levam a sensação de que a idiotice tomou conta da vida.
Existem diversos tipos de idiotas e diversas formas de expressar a idiotice. Faltaria espaço neste escrito para realizar uma lista completa. A título de exemplo gostaria apenas de distinguir dois tipos: o idiota inocente e o idiota destrutivo. Penso que o primeiro, como o próprio nome diz, é inofensivo e talvez o remédio para este tipo seja a educação, a instrução, a leitura, a informação adequada, o bom senso; quanto ao segundo, penso que temos que tomar cuidado, pois como o próprio nome diz, ele é destrutivo, violento, agressivo, mal intencionado, ardiloso, prepotente, machão, imbecil no mais alto grau. Geralmente esse tipo de idiota acredita que é dono da verdade e quer impor suas idiotices aos outros.
Mas como enfrentar a idiotice e ajudar os idiotas a superarem sua condição de imbecilidade? Penso que a formação e o pensamento crítico seja uma das mais importantes e promissoras terapias para enfrentar a idiotice. A escola de qualidade pode se tornar a melhor ferramenta para construirmos uma sociedade com menos idiotas e menos idiotices. Se hoje somos governados por idiotas e se a idiotice está tomando conta do cotidiano, talvez seja urgente promovermos processos formativos que nos ajudem na batalha para não sermos dominados e escravizados pelos idiotas que se apossaram do poder e surfam na onda da ingenuidade do fanatismo religioso e do conservadorismo retrógrado.