Por que precisamos aprender a viver?


A pergunta que dá o título a este escrito pode, num primeiro momento, parecer tão estranha quanto insignificante. Todos nós imaginamos que viver é algo “natural”, que a vida segue como um acontecer espontâneo, que o ser humano nasce, cresce e morre da mesma forma que qualquer outro ser vivo. No entanto, se olhamos um pouco mais além dessas evidências imediatas, percebemos que viver é muito mais do que um fluir espontâneo. A maneira como vivemos depende de muitas aprendizagens e de muitas escolhas, que, por sua vez, mudam radicalmente a forma como vivemos e a trajetória de nossas próprias vidas. O ser humano não é um ser programado, predeterminado, mas, sim, um ser de potencialidades, as quais precisam de condições para se desenvolver. Talvez seja essa uma das principais razões pelas quais é necessário que o ser humano seja educado.

 

Lançado no Brasil em 2008, o livro Aprender a viver: filosofia para os novos tempos é uma das obras do filósofo contemporâneo Luc Ferry. Seu título, a princípio, nos dá a impressão de que se trata de um livro de auto-ajuda ou coisa do gênero. No entanto, uma leitura cuidadosa nos revela uma profunda e preciosa reflexão sobre o que significa viver em nosso tempo e sobre os motivos pelos quais todos nós deveríamos estudar um pouco de filosofia. 

 

Para Ferry, a filosofia é importante para aprendermos a viver porque a quase totalidade de nossos pensamentos, convicções e mesmo crenças e valores se inscreve – sem que muitas vezes saibamos – nas grandes visões de mundo já elaboradas e estruturadas ao longo da história das ideias. Estudar a história das ideias em seu melhor nível, conhecer as razões que sustentam ou contrapõem certos valores ou ideais em que acreditamos ou que rejeitamos e compreender as origens de determinados preconceitos ou ideologias é criar condições para sermos capazes de tomar decisões mais livres, mais justas, mais responsáveis e mais sábias.  Como nos diz o próprio Ferry no livro referido acima, “aprender a viver, aprender a não mais temer em vão diferentes faces da morte, ou, simplesmente, a superar a banalidade da vida cotidiana, o tédio, o tempo que passa, já era o principal objetivo das escolas da Antiguidade grega. A mensagem delas merece ser ouvida, pois, diferentemente do que acontece na história das ciências, as filosofias do passado ainda falam. Eis um ponto importante que por si só merece reflexão”.

 

A filosofia não pode, não deve e nem quer se tornar um receituário para resolver os pequenos problemas que encontramos no dia-a-dia ou curar as neuroses que perturbam nossa existência. Contudo, há nela importantes elementos para vencermos os medos que paralisam a vida, superarmos as banalidades do cotidiano e enfrentarmos o inevitável tédio de viver uma vida sem sentido. Assim, podemos encontrar no estudo da filosofia ensinamentos de vida, atitudes em face da existência e oportunidades de reflexão que talvez não se mostrem em outras áreas do saber. Um atento olhar sobre tais questões podem nos revelar um surpreendente discernimento sobre o que significa viver bem.