Pobres herdeiros das maldades


Depois de reler em vários volumes a história do Brasil e outros da escravidão e a vida dos migrantes, não tem como concluir diferente: nosso povo é herdeiro das maldades da história. Conheci gerações do analfabetismo, sem identidade pessoal e social, desprotegida na saúde, do saber e da propriedade, resultaram na resignação social e vivendo a pobreza e não raro a miséria. Todo programa social de assistência, de promoção humana e de incentivo de vida será uma segurança e sempre uma bênção. Trezentos e cinquenta anos de escravidão, com mais de doze milhões de escravos na América, a metade deles no Brasil, provindos especialmente dos países todos da África. Arrancados de suas terras, tradições, culturas, crenças e famílias, como animais informes se tornaram mercadoria. Sem propriedade, casa e trabalho e sem herança, senão as cicatrizes do corpo e da alma dum tempo infame dos reis, Imperadores gananciosos, com seus sequazes, sem estudos e habilitação pessoal, excluídos do social, da religião, da escola e da política, como poderiam ser mais? Dizem: o povo não sabe votar? Mas, seu voto é de dor e as cicatrizes de sua história votam sim na sua esperança, não raro até enganados. Os migrantes de todo mundo continuaram o Calvário iniciado e se tornou um povo aberto, juntando lágrimas, esperanças, canta e dança a vida, em novos ritmos de sua origem, em novos carnavais, que se abrem em festas, encontros e alegrias. Hoje, a Igreja se vê em todas as fases desta história, desde participação ativa de seus membros, alternando ao poder e sustentada por ele. Assim, até a República, com rei, imperador ou militar, para o povo tanto fazia. Nas memorias dos quinhentos anos da América e do Brasil, os cristãos pediram perdão pela omissão, compactação na perversidade da escravidão. Nunca mais!