Pensar antes de agir
“Pensar antes de agir” tem sido um dos sábios preceitos dos grandes mestres da vida. Agir sem pensar pode levar as pessoas a tomarem decisões erradas, arrepender-se das escolhas e sofrer com possíveis consequências desastrosas. Estudos mostram que as piores tragédias cometidas pelo ser humano são resultados de ações tomadas de forma impulsiva e destruídas de uma reflexão prévia. Não faltam exemplos de experiências coletivas ou pessoais para atestar isso.
Numa matéria intitulada “Ciência do autocontrole” divulgada recentemente na Revista Mente & Cérebro, estudiosos indicam que “sem dominar nossos impulsos não poderíamos conviver de forma civilizada”. Segundo neurocientistas, a capacidade de autocontrole social pode ser compreendida por meio de marcas neurobiológicas. Mas o que é autocontrole? De que forma ele pode ser exercitado? Que relação existe entre a Filosofia e o autocontrole?
“Pessoas com bom autocontrole são, em geral, mais bem-sucedidas no trabalho e mantêm relacionamentos mais estáveis”, como comprovam os estudos do Psicólogo Roy Baumeister e seus colegas de pesquisa da Universidade Estadual da Flórida em Tellahassee, nos Estados Unidos. A equipe de pesquisa investigou longamente duas questões importantes: os processos cerebrais responsáveis por nossa capacidade de autocontrole social e as características neurobiológicas que possam esclarecer as diferenças individuais relacionadas a essa capacidade. Os resultados da pesquisa mostraram que o autocontrole é imprescindível para uma vida mais saudável e um convívio social mais promissor.
Um estudo semelhante em termos educacionais foi feito ainda na década de 1970 pelo Psicólogo Walter Mischel e sua equipe na Universidade de Stanford, também nos Estados Unidos. Trata-se do famoso Teste do Marshmallow. Nesta experiência feita com crianças de 4 a 6 anos, os pesquisadores deixavam as crianças sozinhas numa sala em frente a um doce (marshmellow) com uma instrução muito clara: podiam comer o doce imediatamente ou esperar cinco minutos e aí poderiam comer dois doces. Após a instrução o adulto se afastava da sala por 15 minutos. Tratava-se, portanto, de um teste de adiar a gratificação. O estudo longitudinal de Mischel mostrou que as crianças que tinham a capacidade de autocontrole tiveram um melhor desempenho escolar, conquistaram melhores empregos, tiveram uma vida mais saudável e feliz comparada as crianças que não tiveram o autocontrole. O estudo mostrou também que o grupo de crianças que conseguiram adiar a gratificação, tiveram indicadores menores de envolvimento com drogas, com atos criminais e com propensão a obesidade em comparação com o grupo de crianças que não tiveram autocontrole.
O autocontrole certamente deveria ser um dos focos importantes da educação, pois está relacionado a forma como reagimos diante de certas situações, enfrentamos os problemas e tomamos decisões. Cotidianamente assistimos inúmeros acontecimentos em que crianças e adultos tem dificuldade de lidar com a impulsividade do momento. Grande parte da violência que tomou conta das nossas vidas tem por base a dificuldade de exercer o autocontrole, de pensar antes de agir. Sócrates, um dos mais importantes filósofos da Grécia Antiga, já dizia a mais de 25 séculos: “Uma vida não examinada não merece ser vivida”. Certamente, um preceito atual de autocontrole que não pode ser negligenciado e omitido nos processos formativos. Se quisermos ter uma sociedade mais decente, então inevitavelmente temos que ajudar nossas crianças a compreenderem e exercitarem o autocontrole. E a melhor forma de ensinar o autocontrole é dando o próprio exemplo.