O valor da Gratidão
Gratidão é uma atitude e um sentimento nobre que precisa ser compreendido no sentido profundo de seu significado e nos seus alcances educacionais. Não nos interessa aqui a definição de dicionário que trata a gratidão como um substantivo feminino que significa “o reconhecimento de uma pessoa por alguém que lhe prestou um benefício, um auxílio, um favor”. Gratidão é muito mais do que isso e sua compreensão nos possibilitaria avançar fortemente na perspectiva normativa da educação.
Estudos indicam que praticar a gratidão “traz benefícios físicos, mentais e emocionais” e que há uma íntima conexão entre gratidão e felicidade, pois exercitar a gratidão ajuda as pessoas a serem mais propositivas, otimistas, ter melhores relacionamentos, construir relações mais duradouras, sentir-se mais fortalecido diante dos problemas, perceber alegria nas pequenas coisas da vida.
Infelizmente nos tempos de hoje esse nobre e salutar sentimento também foi deturpado e pode facilmente ser mal compreendido. No mundo da política, gratidão tem sido a forma desonesta com que políticos comprometem vergonhosamente os eleitores para continuar no poder. Propinas, cargos, compra de votos fazem parte da vala comum na vergonhosa deturpação da gratidão. Eleitores se sentem “obrigados” a votar em certas legendas ou candidatos porque querem expressar a “gratidão” por terem recebido alguma forma de benefício. Nas relações amorosas muitas vezes “gratidão” é deturpada quando se torna chantagem emocional ou uma forma muito sutil de incentivar o consumismo com compra de presentes em épocas comemorativas (Natal, dia das mães, dia dos pais, dia dos namorados, dia dos avós, dia da criança etc.). Nas relações comerciais, “gratidão” é reduzida a ideia de fidelidade do cliente, da marca ou algo do gênero. Talvez seja urgente e necessário recuperar o valor da gratidão como uma aprendizagem educacional. O que isso significa?
Esopo, grande escritor da Grécia Antiga a quem são atribuídas várias fábulas populares, já dizia no século VI a. C. que “a gratidão é a virtude das almas nobres” e Samuel Johnson, importante escritor e pensador inglês do século XVIII, dizia que “a gratidão é um fruto de grande cultura; não se encontra entre gente vulgar”. Duas frases de dois grandes escritores de tempos diferentes, mas que convergem ao indicar a grandeza da “gratidão”. Se a gratidão é a virtude das almas nobres, nada mais apropriada para ser colocada como um dos grandes princípios orientativos do fazer pedagógico e da prática educativa. Talvez poderíamos sonhar com instituições mais honestas, justas, democráticas e prósperas se a gratidão tomasse conta do modus operandi de nosso fazer educacional. Mas para isso é necessário pensar as relações humanas para além da negociação comercial, do valor monetário e do conhecimento como mercadoria. A escola não pode ser compreendida como uma empresa se nosso objetivo é tornar a educação um exercício da pedagogia da gratidão.