O que seria uma vida de sucesso?
O que é uma vida bem-sucedida? Esse é o título em forma de pergunta de um belo e profundo ensaio do filósofo contemporâneo francês Luc Ferry, o qual também foi ministro da educação da França de 2002 a 2004. A primeira vista poderia ser interpretado como um livro de autoajuda ou um receituário de como ter sucesso na vida profissional, artística ou amorosa. Mas não, o livro não é de autoajuda e muito menos um receituário. Trata-se de uma instigante provocação que inclusive coloca em cheque o que convencionalmente o senso comum atribui como vida de sucesso.
A ideia de sucesso é amplamente pensada no imaginário comum como “êxito social” advindo de diversas circunstâncias: ter muito dinheiro, ganhar numa loteria, ter um alto salário, frequentar ambientes badalados, ter uma carreira política, ocupar altos cargos numa grande empresa, ser proprietário de uma mansão, comprar um carro milionário e assim vai. Interpretando Freud, Luc Ferry ressalta que essa ligação de sucesso como sinônimo de “êxito social” não passa de um “devaneio adulto”, ou seja, “sonhos diurnos”, “castelos no ar”, que às vezes nossa imaginação gosta de construir para compensar as frustrações impostas pelas realidades da existência.
Possivelmente o problema dessa ideia de sucesso decorre da confusão que fazemos entre aquilo que os antigos chamavam de “vida boa” e o simples “êxito social”, entre sabedoria autêntica e “culto da performance”, o qual se traduz na busca incessante pelo narcisismo, pelo desejo de poder e de posse, pela vontade insaciável de dinheiro e fama e pela forma atravessada e desastrosa com que compreendemos a vida. Assim, enterramos importantes valores (virtudes) que foram imprescindíveis para a evolução da humanidade tais como a solidariedade, o respeito, a honestidade, a caridade, o cuidado, a confiança, a humildade, a justiça [...]; e em seu lugar colocamos no trono outros valores (vícios) tais como a competição, a vaidade, a avareza, a gula, o poder pelo poder, o desejo de posse, o amor pelo dinheiro, a fama a qualquer preço, o desejo de estar acima de tudo e de todos.
Em termos educacionais, penso que temos um imenso desafio de pensar a forma como estamos projetando a ideia de sucesso para as novas gerações. Pensar sobre o sentido do sucesso significa que talvez precisamos rever a forma como compreendemos a ideia de uma vida bem-sucedida. Educar as novas gerações para uma “vida boa” significa pedagogicamente ajuda-las a dar-se conta que a vida não se resume a ganhar dinheiro, pois se este fosse sinônimo de vida boa, não teríamos tantos ricos infelizes, frustrados e, estatisticamente, os principais candidatos potenciais para o suicídio.