O primeiro ano
Depois de décadas de existir e aprender, agora um ano de viver, conhecendo o caminho, buracos e pedras, a noite e o dia, assim como os desafios do cansaço, medo, ódio e insegurança. Iniciei o caminho da escola, por entre mata fechada, andando no rasto deixado das toras arrastadas para fora do mato. Antes era medo até do canto dos pássaros e do barulho dos animais de arrasto como escorpiões, lagartos e cobras. Depois guardo o caminho em sonho. Assim também lembro os assaltantes de faca em punho, de armas de fogo, e os braços musculosos a estrangular em quatro oportunidades. Nunca me esqueci e a eles dizia que os queria bem e em algum momento me dessem a alegria de sermos amigos e conviver. Os anos de família, de tantas idades e etapas, desde infância, a adolescência, a juventude, de estudante e até de atleta, de profissional da terra, do livro, da palavra. Os anos sempre foram a vida, que engloba tudo. Ao completar a idade madura, agradeço a todos os médicos com que tratei a prevenção dos olhos, dos ouvidos, da boca, do organismo e dos sistemas humanos e até dos massagistas. Milhares de rostos de crianças e de jovens, estão guardados dentro de mim, sem distinguir mais nenhum senão as marcantes, como as perguntas: Porque nós somos pobres? Porque o dinheiro faz o pobre? E também faz o poder? Vivi o meu primeiro ano diferenciado. Tudo é uma nova descoberta. Como a gente é pequena, em tudo. Sempre precisei de tudo dos outros. O que aprendi recebi dos outros. Recebi o que os outros sabiam e faziam. Pergunto, afinal, o que contribui? Pelo que eu sei, pouco. Nós somos em grande parte a vida dos outros. Sozinho, não sou ninguém e nada. Ele é meu tudo e meu nada. Nada melhor.