Mistura de tanque: alguns cuidados para evitar problemas
No Brasil a mistura de tanque é realidade em muitas propriedades agrícolas, pratica essa que está regulamentada desde de outubro de 2018. Após essa liberação, diversos estudos passaram a avaliar a compatibilidade das misturas de defensivos agrícolas, bem como os efeitos dessas misturas. Mas mesmo assim, a nível de campo, dificuldades ainda são enfrentadas pelos agricultores ao realizar misturas de tanque, principalmente se tratando de problemas de incompatibilidade química e física dos produtos na calda de pulverização.
Essas incompatibilidades resultam no entupimento de filtros, pontas de pulverização e linhas de alimentação, além da formação de flocos e grumos, formação excessiva de espuma ou pastas, resultando em perda de tempo e dinheiro em função dos atrasos nas aplicações, redução da eficiência operacional e eficácia dos produtos.
Diversos fatores podem resultar nas incompatibilidades físicas e químicas da calda de pulverização, tais como qualidade da água, sua dureza, pH e formulações. Visando minimizar os riscos de incompatibilidade, um dos principais fatores a se analisar é a ordem de mistura do tanque.
Embora possa haver variações em função das diferentes formulações e doses, no geral, orienta-se a seguinte ordem de mistura:
- Passo 1: Encha o tanque com água em até 2/3 do volume a ser aplicado;
- Passo 2: Inicie o processo de agitação e o mantenha até o final;
- Passo 3: Adicione os condicionadores de água, agentes redutores de deriva, agentes antiespumante e de compatibilidade (caso a adição seja necessária);
- Passo 4: Adicione os pós molháveis (WP);
- Passo 5: Adicione os produtos granulados, granulados dispersíveis em água (WG) e granulados solúveis em água (SG) (realize a pré-mistura indicada nas bulas);
- Passo 6: Adicione as suspensões concentradas (SC);
- Passo 7: Adicione as concentradas solúveis (SL);
- Passo 8: Adicione os concentrados emulsionáveis (EC);
- Passo 9: Adicione os demais adjuvantes (caso a adição seja necessária);
- Passo 10: Adicione fertilizantes foliares (caso a adição seja necessária);
- Passo 11: Adicione o restante da água necessária (Gazziero et al., 2021).
Antes de realizar a mistura no tanque do pulverizador, é possível realizar o teste de compatibilidade da calda, popularmente conhecido como “teste da jarra”, onde em escala menor, utilizando pequenos volumes, simulando a calda de pulverização, para analisar possíveis problemas de incompatibilidade.
Gazziero et al. (2021) orientam que para realizar o teste da jarra, deve-se seguir os seguintes passos:
- Passo 1: Escolha um recipiente transparente e com tampa que tenha volume suficiente para o preparo de 1 litro de calda e adicione 2/3 do volume de água. (use a mesma fonte de água utilizada na preparação da calda de pulverização);
- Passo 2: Adicione os condicionadores de água (agentes sequestrantes, acidificantes e tamponantes), o agente redutor de deriva, antiespumante e de compatibilidade;
- Passo 3: Adicione as formulações no recipiente seguindo a ordem recomendada anteriormente, utilizando as dosagens ajustadas para o volume do recipiente;
- Passo 4: Adicione o restante de água necessária;
- Passo 5: Adicione os demais produtos;
- Passo 6: Feche o recipiente e agite bem;
- Passo 7: Deixe a mistura repousar por duas horas;
- Passo 8: Identifique se houve incompatibilidades físicas e, em caso positivo, altere a ordem de mistura das formulações e repita o teste (Gazziero et al., 2021).
Vale destacar que segundo a Instrução Normativa nº 40, de 11 de outubro de 2018 (Brasil, 2018), as misturas devem ser recomendadas pelo engenheiro agrônomo, mediante receita agronômica. Sobretudo, visando reduzir os casos de incompatibilidade físico-química, além de respeitar a ordem de mistura, recomenda-se realizar o teste da jarra para evitar maiores transtornos como o entupimento dos equipamentos.