Meio ambiente e povos indígenas


Um dos primeiros atos de Joe Biden, quando assumiu a presidência dos Estados Unidos, foi colocar o seu país de volta no Acordo de Paris, um acordo produzido pela Convenção  do Clima, em 2015, e assinado por 195 países, entre eles, os próprios Estados Unidos, na ocasião, sob a  regeira de  Barack Obama. O malfalado Donald Trump saiu do acordo alegando  que a permanência nele teria  alto custo financeiro, geraria desemprego e prejudicaria a indústria carvoeira. Os desastres climáticos que se abatem sobre o mundo e, severamente, sobre aquele país parecem estar produzindo uma certa reviravolta na compreensão do quanto é grave o fenômeno do aquecimento global. Na Europa, é unânime o sentimento de urgência a respeito das questões ambientais; na Ásia, com a China à frente, há mobilização firme na solução desse problema, o que também ocorre em muitos outros países de todos os continentes. O Brasil é, entre os países de maior expressão, o único que tem uma postura desleixada e, até, deletéria para com todos os seus ecossistemas, embora sejam tidos como importantíssimos para o equilíbrio climático do planeta.

O mundo está nos chamando atenção e, certamente, enfrentaremos represálias de toda a ordem, sobretudo de matiz econômico, em resposta às nossas atitudes displicentes. Mas não é apenas essa pressão internacional que nos desafia a abrir os olhos. As queimadas, o avanço da desertificação, o regime alterado das chuvas, dos ventos e das temperaturas, só para citar os fenômenos mais impactantes e recentes, estão nos ferroando de todos os lados. A política ambiental brasileira ao revelar-se conivente com interesses predatórios, revela-se também como uma política hostil aos povos originários. Estou me referindo, especialmente, aos povos indígenas que, reconhecidamente, são nossos guardiões mais efetivos dos ecossistemas, e, por causa disso, são agredidos brutalmente. A mais recente dessas agressões é o tal “marco temporal”, que nada mais é do que um artifício inventado para protelar e, no limite, impedir a demarcação das terras indígenas. A defesa dos indígenas e da demarcação de suas terras é um dever humanitário e cidadão. É um valor em si mesmo. Todavia, é bom lembrar que as terras indígenas são patrimônio da União e, consequentemente, patrimônio de todos os brasileiros. Demarcar terras em favor dos povos indígenas é também proteger o patrimônio coletivo dos brasileiros e colocar um freio eficaz à devastação do meio ambiente.