Maniqueísmo
“Posso negociar reforma agrária e seus mecanismos, cotas universitárias e outras questões. Não posso tergiversar sobre tortura, quebras constitucionais e existência de polícia secreta” (Leandro Karnal), no Caderno DOC, ZH, de 02.03.22. Aliás, gostaria que muita gente lesse o artigo citado. Também gostaria de transcrever toda ele aqui, mas o espaço que me é destinado não o permite. Outro trecho: “nunca fui neutro. Tenho valores muito claros. A vida não pode ser elemento negociável na obtenção de valores políticos, ou mesmo de desenvolvimento”.
E cito o final de suas ponderações: “Nenhum sistema é perfeito, porém a democracia é perfectível e a única viável. Relativizar a vida humana é argumento de canalhas autoritários. Isso desafia meu senso de esperança.” E não pensem que ele está se referindo somente ao Brasil. Entram na ciranda de ditaduras e genocídios a China atual e a da Revolução Cultural da Mao, República Dominicana, Turquia, União Soviética (Rússia), Chile, Alemanha Nazista, citando inclusive números de pessoas chacinadas, como 20 milhões de Stálin, seis milhões de judeus de Hitler e 1,5 milhões de armênios na Turquia.
Ele chama de “moral seletiva” esta tendência de considerarmos que a nossa turma é do lado do Bem e os outros são do Mal. Não nos damos conta que o mesmo defeito que condenamos nos outros como mau, aplaudimos se feito por nós, os bons. Aqui pode se aplicar a máxima de que “vemos o cisco no olho do outro, mas não enxergamos a trave que há no nosso.” Manes ou Maniqueu, que viveu no terceiro século da nossa era, foi o que estabeleceu a filosofia que o mundo estaria dividido entre o Bem (Deus) e o Mal (Demônio) e os adeptos desta ideia foram chamados de maniqueístas. Isto no âmbito religioso, hoje está muito insistente nos meios políticos, onde cada partido acha que representa o bem e os outros partidos que não pensam igual são do mal e, portanto, não há como buscar um denominador comum. Ou você está comigo que sou o bom, ou está com o adversário que é mau.
E durma-se com um barulho desses.