Gerações se sucedem


“Passa a geração pioneira e empreendedora”, exclama sindicalista que vê um a um a nos deixar. Os migrantes chegados deixaram uma geração pobre, corajosa e lutadora. Em meio a mil dificuldades, implantaram lavouras, moradias, iniciaram vilas e cidades. Organizaram os trabalhos e viviam de seu fruto. Organizaram as águas para a casa, para os animais, para hortas e animais. Outras águas possibilitaram atafonas, engenhos de madeira e moinhos. Abriram picadas e estradas em mutirões de trabalho. Fundaram sindicatos e associações de comércio, cooperativas de trigo e até financeiras. Adquiriram suas terras e nada de graça. As mulheres cuidavam da cozinha, das roupas, costuravam os rolos de tecidos, não havia fábricas de camisas, calças, artigos de cama, mesa e banho.  Ainda cuidavam dos filhos, da escola, das hortas e das lavouras. Também cuidavam dos idosos e doentes. Eles mesmo construíram hospitais, escolas, igrejas e salões e também cemitérios.

 

Ultimamente, colocam seus filhos no estudo para seu futuro possível. Eles aprenderam as primeiras letras de ler e escrever e tarde na vida se tornaram eleitores e acolheram as novas tecnologias para a casa e para o trabalho. E, agora, quando tudo está no ponto, eles partem, nos deixando uma marca de valores de trabalho, de família e vida comunitária e da união de classe e de ajuda recíproca. Seu relógio era o sol. A hora do arroz era a passagem do ônibus amarelo. E levavam água, salame e queijo para a merenda no trabalho. Tudo era manual, com bois e cavalos para transporte e força. De sol a sol, dependiam do sal, fogo e açúcar, ou produtos químicos. De resto, plantavam a própria semente. Sua vida chegava até os 60 anos. Dependiam do Tiradentes, da benzedeira e curandores, ervas medicinais e chás caseiros. Com esta geração vivi, conheci e hoje me ajoelho e agradeço.