As turbulências do cotidiano e o valor da comunicação
Vivemos tempos turbulentos. Não só no que se refere a corrupção, a crise política, a perturbação econômica, as diversas formas de violência que ocupam as principais páginas dos jornais e dos noticiários da televisão, a forma exagerada com que certos acontecimentos banais tomam conta das pautas de atenção da população etc (a lista poderia ser infinita); mas os tempos turbulentos se fazem sentir, também, na forma como cada um enfrenta sua própria vida, os problemas cotidianos, as prioridades do tempo cada vez mais escasso, a educação dos filhos, o que comprar ou deixar de comprar diante de tantas ofertas e atrações, o que realmente importa para se viver bem, o que comunicamos aos outros de forma presencial ou virtual. Essas turbulências podem ser atribuídas a muitos fatores, alguns dos quais desconhecemos.
Alguns podem dizer que a turbulência é decorrente da velocidade com que as tecnologias chegam até nós; outros de que ela é resultado da forma materialista e consumista com que as pessoas passaram a organizar sua vida; outros, ainda, acreditam que se deve à falta de educação de qualidade, ao sucateamento das escolas públicas e a forma irresponsável com que os governos gerenciam os recursos públicos. Cada um desses fatores poderiam facilmente ser refutados com argumentos de contraprova. Não pretendo fazer isso, pois necessitaria de um longo espaço para mostrar, de forma coerente, como boa parte daquilo que atribuímos como fator da turbulência, não passa de uma consequência de um problema humano mal resolvido.
Tem razão Fernando Savater, filósofo e educador espanhol, quando no seu livro O valor de educar afirma que “a vida humana consiste em habitar um mundo no qual as coisas, além de serem o que são, também são constituídas de significados e de que o mais humano de tudo, é compreender que, embora o que a realidade é não dependa de nós, o que a realidade significa é, sim, competência, problema e, em certa medida, opção nossa”. Isso significa dizer que uma das dimensões mais importantes da vida humana é a capacidade de fazer opções, de fazer escolhas, de ter a autonomia de conduzir a própria vida. Trata-se do que alguns filósofos chamam de maioridade, de fazer uso da própria razão, de ousar saber. É nesse sentido que a qualidade da comunicação ganha centralidade, pois constitui-se um valor de imensas proporções para nos situarmos no mundo.
Já dizia o saudoso e polêmico comunicador José Abelardo Barbosa, mais conhecido como Chacrinha: “quem não se comunica se trumbica”. A comunicação se tornou um dos elementos fundamentais da vida contemporânea. Facilitada pelas tecnologias e pelos múltiplos meios que não param de se reproduzir, a comunicação representa hoje “nossa forma de estar no mundo”. No entanto, a qualidade da informação e a responsabilidade cidadã com o que comunicamos algo são os critérios estruturantes para avaliarmos a dimensão ética de um veículo de comunicação. É nesse sentido que a comunicação tem o compromisso ético de criar e difundir conteúdos que colaboram para uma reflexão mais crítica da sociedade acerca dos acontecimentos do presente, uma análise lúcida dos fatos ocorridos e uma projeção otimista do futuro.