Aprender com a infância


No belo filme O Clube do Imperador, o professor de História Hundert, na tentativa incansável de fazer com que seus alunos aprendessem, realiza um intenso trabalho com seus alunos, pois acreditava que além de conteúdos, a escola necessita educar para a virtude. Em uma das cenas do filme ele afirma seu princípio de que “o fim depende do começo”. Nada mais oportuno para pensarmos sobre o começo de nossa escolarização.

No final dos anos oitenta, em seu belo livro Tudo que eu devia saber na vida aprendi no Jardim-de-Infância, o filósofo da vida Robert Fulghum (1988, p.10-11) ressaltava que tudo o que precisava saber sobre como viver, o que fazer e como ser, aprendeu no jardim-da-infância e que “a sabedoria não estava no topo da montanha mais alta, no último ano de um curso superior, mas no tanque de areia do pátio da escolinha maternal”. E quais seriam essas aprendizagens? O próprio Fulghum indica o que aprendeu: dividir tudo com os companheiros; jogar conforme as regras do jogo; não bater em ninguém; guardar os brinquedos onde os encontrava; arrumar a “bagunça” que eu mesmo fazia; não tocar no que não era meu; pedir desculpas, se machucava alguém; lavar as mãos antes de comer; apertar a descarga da privada; biscoito quente e leite frio fazem bem à saúde; fazer de tudo um pouco – estudar, pensar e desenhar, pintar, cantar e dançar, brincar e trabalhar de tudo um pouco, todos os dias; tirar uma soneca todas as tardes; ao sair pelo mundo , cuidado com o trânsito, ficar sempre de mãos dadas com o companheiro e sempre “de olho” na professora.

As ideias de Fulghum nos fazem pensar do quanto nosso mundo seria melhor se pudéssemos incorporar essas aprendizagens do “jardim-da-infância” no nosso modo de vida. Se em cada atitude, em cada ação, em cada tomada de decisão pudéssemos “arrumar a bagunça que cada um faz”, se pudéssemos recolocar as coisas nos lugares onde estavam quando foram retiradas. Certamente uma ideia instigante para mostrar a centralidade da Educação e de modo especial da Educação Infantil.

Vivemos um tempo privilegiado, instigante e desafiador no que se refere a Educação Infantil. De fato, em nenhuma outra época da história de educação brasileira a infância recebeu tanta atenção quanto nos dias de hoje a tal ponto que a educação infantil passou a integrar a educação básica obrigatória. A aprovação em abril de 2013 da Lei nº 12.796 que tornou compulsória a matrícula aos 4 anos de idade na Educação Infantil é apenas um dos indicativos do quanto o tema da infância é central na atenção hodierna de educadores, gestores, pesquisadores, políticos e da sociedade de modo geral.

 

No entanto, essa centralidade da infância e mesmo a aprovação da Lei a pouco referida, não nos garante que o cuidado educacional da criança seja efetivado. Por essa razão, tratar da infância, de sua presença na escola de forma compulsória, das condições de infraestrutura para acolher essa criança que chega mais cedo na escola, da forma como os municípios e as escolas estão se preparando para dar conta desta nova demanda formativa, são desafios que necessitam ser enfrentados por todos nós que almejamos uma escola de qualidade.