A VELHICE AMADURECE
Os anos marcam a gente. Não apenas decresce o vigor físico, ou mesmo as funções dos tecidos do organismo. Fragilizam a pele, os membros e músculos do corpo, a ossatura, os nervos e os sentidos. Mas, aguça, a arte, a sensibilidade e as esperas da vida. Depois duma infância saudosa e duma família admirável e santa em seus esforços e valores; depois duma juventude ativa com grupo jovem do tempo, nos esportes, na arte cênica, nos meios de comunicação e nas dinâmicas juvenis nos Centros Acadêmicos se amadurece e admirando os grandes dons da humanidade. Depois de muito trabalho, como todo idoso, sofrimentos e limites de toda ordem, passando por contrariedades, violências, agressividade dos humanos e do mundo, que envolve a gente, sinto um jeito mais humano do que antes. Porque as crianças foram condenadas à orfandade, excluídas das famílias, da escola, da convivência natural e de seu próprio brinquedo, por guerras, fomes, violências, tudo vindo das maldades adultas? Porque os mais privilegiados se fecham nas suas abundâncias e não abraçam a quem está no descarte humano. Porque a escravidão continua a castigar nas carências as gerações da antiga escravidão? Assim como doar um pedacinho de terra para sua casa ou terra para produzir seus alimentos e sustentação? Na idade plena de nossas vidas, os idosos sentem a criança a chorar, os jovens sem rumos e ideais; os casais, sem aptidão para a vida a dois. Sentimos muito as pessoas se reduzirem ao visível e o invisível de sua própria vida passa despercebido, assim como a afetividade infantil destruída, a ponto de menino infrator pedir a um soldado que lhe prendeu, um abraço. As cidades criam assim seus filhos e nós idosos desacreditados amamos mais e mais a todos, como testemunhas de nossas vidas.