A sociedade dos stories e o existir
Analisar a qualidade do pensar a sociedade é um exercício necessário nos dias atuais.
Se você olhar e achar essa escrita um “um textão”, e não ler até o final, é o sinal de quanto você está raso. Veja:
Se o ser humano fosse um smartphone conectado em redes sociais, poderíamos dizer que nossa interação social é um “story”.
Os Stories do Instagram são um recurso que tem como objetivo melhorar a interação entre os usuários; consiste na possibilidade de publicar fotos ou vídeos.
Os conteúdos postados ficam acessíveis por até 24 horas. São conteúdos volúveis e superficiais, que são massivamente visualizados e descartados com facilidade, pois na sequência vem outro, e, se não gostamos, facilmente passamos para o próximo, com liquidez, sem profundidade ou uma análise criteriosa, racional e subjetiva do pensamento.
O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, fala em “modernidade líquida”, aquela que diz respeito a uma nova época em que as relações sociais, econômicas e de produção são frágeis, fugazes e maleáveis, como os líquidos.
Nesta liquidez, nossa mente não tem tempo de laborar de forma profunda e reflexiva, nem é esse o interesse dessas redes. O processo é tão intenso, que não conseguimos nos desvencilhar, pois sempre há algo novo, interessante, que dá prazer para ser visto, em uma busca incessante pelo inalcançável. Não é possível experimentar, muito menos vivenciar. Não é real.
Pensar sob esse viés, é pensar que tudo é fácil, conquistável e ao mesmo tempo descartável. Se não gosto, simplesmente não vejo. Quando não vejo, o algoritmo entende que não é midiaticamente ou comercialmente interessante e não indica o contraditório, como não há reflexão crítica, caímos no fosso da ignorância, de um pensar líquido, frágil e facilmente manipulável de uma sociedade fria, vil e oportunista.
Essa sociedade dos stories, é brilhante, conectada, atualizada e inovadora, porém sem profundidade, com pouca argumentação, com pouca leitura, com pouco lavoro crítico. Produz e reproduz frases de efeito e de impacto, que facilmente se dissolvem quando um novo story é postado, de um novo hit, uma nova trend, ou algo passageiro, difuso e manipulável.
Esse conceito opõe-se, na obra de Bauman, ao conceito de modernidade sólida, quando as relações eram solidamente estabelecidas, tendendo a serem mais fortes e duradouras. Reais.
Nosso pensamento se forma pela comunicação dos neurônios, que passam informação entre si por sinapses eletroquímicas. O produto dessas informações se dá pela interação social praticada. Neste sentido, se pensar é logo existir, trata também, da capacidade que o ser humano precisa desenvolver de pensar o existir. Para que não continuemos propagando a liquidez de “não pensar e logo desistir”.