A responsabilidade ética
A discussão ética tornou-se assunto obrigatório no atual cenário global. Por todos os cantos, desde os meios de comunicação social até as empresas privadas, passando pelos meios acadêmicos, pelas escolas, pelas instituições de pesquisa, a ética é um tema corrente. As inúmeras conferências e os congressos internacionais sobre meio ambiente, direitos humanos, educação, saúde, fome, tecnologia, têm como pano de fundo a educação ética. Mais do que nunca é discutir alguns pressupostos éticos indispensáveis no processo de produção do conhecimento, bem como oportunizar uma reflexão sobre o papel da escola na discussão ética atual. A sala de aula é um espaço importante e insubstituível para realizar a educação para a cidadania e para que aconteça uma reflexão comprometida, baseada em critério teóricos, norteando assim uma verdadeira discussão ética imprescindível para construir uma sociedade mais decente para se viver.
A ética é daquelas coisas que todo mundo sabe, mas que não são fáceis de explicar. Quando alguém pergunta: Que devo fazer? Será correto fazer isso? Devo cumprir a promessa x, que fiz ontem ao meu amigo y, embora hoje perceba que o cumprimento me causará certos prejuízos? Podemos considerar bom o homem que se mostra caridoso com o mendigo que bate à porta e, durante o dia, como patrão, explora impiedosamente os operários e os empregados de sua empresa? Devo falar a verdade sempre, ou dependendo das circunstâncias posso mentir?
Questões desse tipo são frequentemente apresentadas ao nosso cotidiano, porém, nem sempre temos coragem de refletir sobre elas. O problema é que não estamos acostumados a refletir sobre essas questões. Na maioria das vezes respondemos de maneira instintiva, automática, reproduzindo alguma fórmula ou “receita” presente no nosso meio cultural. Agimos conforme o “senso comum”, e isso nos dá a segurança e o alívio de não termos que nos responsabilizar por alguma atitude ou ação diferentes das tomadas por outros.
Se prestarmos atenção nos últimos acontecimentos de nossa “aldeia global”, perceberemos que surgiu uma série de problemas, que emergiram com violência para os homens e mulheres de nosso tempo. Até pouco tempo, a consciência que tínhamos de nossa responsabilidade moral era muito estreita: pensávamos nas pessoas de nossa proximidade, no máximo de nosso país. Depois da Segunda Guerra Mundial, difundiu-se, cada vez mais, a ideia de que nossa responsabilidade moral se estende a “todos os homens e mulheres”. Mas, precisamente aqui começam as dificuldades: que significa, todos os homens e mulheres? Por exemplo, como fica nossa responsabilidade em relação à migração e ao asilo, hoje cada vez mais frequentes? Ou, em que medida somos responsáveis pelo empobrecimento de milhares de pessoas no mundo?
Até pouco tempo tínhamos certeza de que, quando falávamos de “todos os homens e mulheres”, tratava-se dos atualmente existentes. No entanto, o problema ecológico nos abriu os olhos para as consequências de nossas ações de hoje para as gerações futuras, ou seja, não é mais possível dizer que o que eu faço não diz respeito aos outros. A destruição do meio ambiente se torna um desrespeito frontal às gerações futuras. E, nesse sentido, surge o questionamento de nossa responsabilidade com relação às gerações futuras.
E, se considerarmos a situação do nosso mundo hoje, o mapa da fome, das crianças que morrem a cada hora de doenças provocadas pela desnutrição, as torturas, violências de todos os tipos, as somas imensas destinadas à produção de armas, a devastação do meio ambiente, a problemática da energia atômica, a formação de grandes blocos, o processo de globalização da economia, etc, nos perguntamos: o que podemos fazer diante deste quadro?
O ato de perguntar nos remete diretamente à filosofia e ao processo reflexivo. Se analisarmos a história do pensamento humano, perceberemos que o problema ético sempre existiu. Desde a Grécia clássica, entre os anos 500 e 300 a.C., aproximadamente, considerado o período áureo da Filosofia, a preocupação com a ética ocupava um lugar central. A reflexão grega surgiu como uma pesquisa sobre a natureza do bem moral, na busca de um princípio absoluto de conduta. A preocupação de filósofos, como Platão, Sócrates, Aristóteles, era de encontrar o “Sumo Bem” que pudesse orientar as ações humanas nessa direção. Passaram-se quase 2.500 anos e continuamos em busca do ideal grego. Talvez hoje nos deparamos com situações diferenciadas, mas que, essencialmente, guardam a estrutura do antigo problema grego. Os gregos, na voz e escritos dos seus filósofos, procuraram responder a este problema. E nós, que resposta estamos apontando? Eis um desafio educacional que não pode ser ignorado se quisermos habitar num mundo mais decente, justo e saudável para viver. Não resolveremos os problemas da violência, da fome, da corrupção, da maldade humana se não tivermos responsabilidade ética na forma como conduzimos nossas vidas e como educamos as futuras gerações.